Tumi Mboup: bebê que teve registro de nome africano impedido é atendida como 'recém-nascida de Kelly', após impasse em cartório
29/09/2025
(Foto: Reprodução) Após ter o registro civil negado em cartórios de Belo Horizonte por conta da escolha de nomes de origem africana, a bebê Tumi Mboup foi atendida nesta segunda-feira (29) em um posto de saúde da capital como "recém-nascida de Kelly". A bebê foi cadastrada no sistema de saúde apenas com o nome da mãe, sem o nome escolhido pelos pais.
O caso ganhou repercussão após os pais denunciarem que foram impedidos de registrar a filha com os nomes africanos Tumi, que lealdade, e Mboup, uma homenagem ao intelectual senegalês Cheikh Anta Diop, autor de A Unidade Cultural África Negra. O segundo nome foi rejeitado pelos cartórios por ser considerado sobrenome (entenda mais abaixo).
A identificação provisória no posto de saúde foi usada para que a criança pudesse realizar o teste do pezinho e a primeira consulta com a pediatra. Segundo a mãe, a historiadora Kelly Cristina da Silva, o momento foi marcado por sentimentos contraditórios.
“Veio um alívio de saber que a gente conseguiria, minimamente, fazer o teste do pezinho, a consulta com a pediatra, para nos precaver de qualquer eventualidade com relação à saúde. Mas, ao mesmo tempo, foi uma frustração, uma raiva de não poder dar a ela uma identidade. É como se ela não tivesse identidade ainda”, disse.
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Fábio Rodrigo Vicente Tavares, Kelly Cristina da Silva e a filha deles, Tumi Mboup.'
Arquivo pessoal
Entenda o impasse
De acordo com pai da bebê, o sociólogo Fábio Rodrigo Vicente Tavares, a tentativa de registro foi feita dois dias depois do nascimento da criança, no Hospital Sofia Feldman, que possui uma extensão do Cartório de Venda Nova, em BH.
Segundo nome foi rejeitado pelos cartórios por ser considerado sobrenome. Família argumenta que escolha do nome é um ato político de reafricanização e resistência à colonização.
Após a negativa, Fábio seguiu a orientação da atendente e procurou outro cartório, no Terceiro Subdistrito, no Centro da capital mineira. Ele entrou com uma solicitação judicial para autorização do registro e aguarda resposta até o dia 2 de outubro.
A mãe, Kelly Cristina da Silva, criticou a falta de diálogo nos cartórios.
“Só nos dão um papel dizendo sim ou não, se o nome passa ou não passa... sugerem outro nome. É revoltante. Como pode uma lei que não considera a história, a ancestralidade, a identidade de uma pessoa? Se o nome dela já era tão especial, agora se tornou um motivo de existência, um motivo para lutar. Ela vai se chamar Tumi Mboup, sim. A gente vai até as últimas consequências”, afirmou Kelly.
O g1 entrou em contato com o Fórum Lafayette, onde tramita o processo, mas até a última atualização desta reportagem não havia obtido resposta.
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A escolha e o significado do nome
Para Fábio, o nome escolhido por ele e pela companheira carrega significados profundos ligados à ancestralidade africana e à resistência contra a colonização. O casal vive no Brasil e considera o nome uma forma de preservar a origem e a identidade da criança desde o nascimento.
“O processo de colonização começa tirando o nome da pessoa, para que ela perca sua origem e identidade. Então, dar um nome africano é o primeiro passo para reafricanizar”, afirma o pai.
O vídeo abaixo conta uma caso semelhante que também ocorreu em Belo Horizonte, em 2024:
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